Em um de seus vários livros, Philipp Yancey conta de
uma experiência vivida por ele e alguns amigos em uma visita a uma das
repúblicas da, na época, recém extinta União Soviética. Estavam em um antigo
castelo do tempo dos kzares, mas cujos porões foram usados como prisão de
inimigos políticos do regime comunista. Durante a visita a esse lugar horrível
e lúgrube, depararam-se, em um cantinho discreto, com uma pequena cavidade na
parede de pedra da masmorra. Ali, disse-lhes o guia, os prisioneiros cristãos
haviam feito um nicho, em torno do qual se reuniam para orar e adorar a Deus
sem chamar a atenção dos guardas soviéticos. O guia acrescentou que, apesar das
condições, ali, naquele cantinho do cárcere, a graça divina consolou, alimentou
e fortaleceu o coração de adoradores sinceros e fieis. Como a visita ao castelo
se encerraria em instantes, alguém do grupo deu a idéia de orarem, agradecendo
a Deus pela fidelidade daqueles mártires cristãos e pela realidade consoladora
do Espírito Santo. Outro visitante, então, dirigiu-se ao guia e lhe perguntou
se ele não gostaria de orar ali, em nome do grupo. O guia assustou-se,
confirmou se era ele mesmo que estava sendo convidado a orar e, diante da
assertiva do grupo, disparou corredor afora, deixando perplexos os irmãos que
já estavam inclinando a cabeça para a oração de encerramento da visita. Ninguém
entendeu o que estava acontecendo, até que, poucos minutos depois, o guia
voltou, com paramentos e ícones próprios do culto ortodoxo. Então, rapidamente,
ele pôs e ascendeu velas nos pequeninos nichos da parede de pedra, estendeu uma
toalha rendada na cavidade feita pelos prisioneiros, paramentou-se e disse:
“Agora, sim, estamos prontos para orar”.
Eu sei que isso nos soa como idolatria ou zelo
religioso extremado, mas, sinceramente, essa narrativa mexeu comigo. É certo
que não precisamos de paramentos ou ícones ou mesmo velas (aliás, onde elas são
condenadas nas Escrituras?) para entrar em contato com o Senhor, mas a
preocupação daquele guia aponta para o cuidado e o temor devidos ao querermos
entrar na presença do santo. Afinal, qual era a intenção do Pregador, quando
exortou: guarda o teu pé quando entrares na Casa do Senhor? Certa vez, alguém
me pediu para redigir um aviso a ser afixado na porta do átrio de uma igreja,
pedindo para que não comessem pipoca ou chocolate durante o culto. Preciso
falar mais?
Outra área em que vejo nossa relação com Deus
banalizada é a dos dízimos e ofertas. Sinceramente, o Espírito Santo tem me
incomodado terrivelmente nesse aspecto. Penso que tornamos (ao menos eu tornei)
o ato da devolução do dízimo e da doação de ofertas algo automático demais.
Fácil demais. Rápido demais. Feito sem a devida consciência e o requerido
cuidado. Penso que o ato de SEPARAR o que é de Deus não é mais feito com a
atenção e o carinho necessários. Lembro-me de, no passado, orar antes e depois
de preencher o cheque do dízimo e colocá-lo no envelope. Isso muito antes de
levá-lo ao gazofilácio da igreja no momento de glorificação ao Senhor no culto.
Hoje, é muito mais comum enfiarmos a mão no bolso e pegarmos uma nota de
dinheiro para enfiá-la na salva das ofertas, ou simplesmente digitarmos a senha
do cartão na maquininha da igreja. Longe de mim criticar a modernidade, mas
que, com ela corremos o risco de perder muito da espiritualidade do ato de
ofertar, isso corremos. Quando Paulo instrui sobre as ofertas, ele manda que
sejam separadas em casa, com cuidado e antecedência, o que mostra que não pode
ser algo banal, feito em cima da hora, “no piloto automático”. Deus é zeloso e
requer zelo, temor e tremor em nossa relação com Ele.
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