Não sem motivo, o Pentateuco (escrito pelo mesmo
Moisés) traz uma série infindável de instruções, preceitos, mandamentos e
narrativas que têm por objetivo infundir zelo e temor no povo de Deus. Sempre
indaguei acerca da razão de tantas minúcias na descrição de como deveriam ser
feitos os grandes e pequenos objetos do tabernáculo. E não somente os
utensílios em si, mas também o próprio tabernáculo, seu entorno, sua montagem,
sua manutenção e seu transporte. E ainda as vestes do sumo-sacerdote, dos
sacerdotes e levitas e a maneira detalhada e minuciosa como estes deveriam
vesti-las e despi-las para dar conta dos rituais sagrados. Não poucas vezes,
adormeci, ao ler os textos de Êxodo e Levítico que tratam do assunto.
Por que tanta ênfase nos detalhes? Afinal, não é a
essência muitíssimo mais importante do que a aparência? Não é o conteúdo muito
mais significativo do que a forma? Não foi exatamente isso que o Senhor Jesus
ensinou? Então, qual a causa dessa implicância toda do AT no cumprimento exato
das minuciosas instruções divinas acerca do culto israelita? A razão está na
grande importância, nem sempre reconhecida por nós, de tratar o Senhor com o
zelo e temor devidos ao Criador do Universo. Rudolf Otto, ao falar de nossa
relação com o Eterno, usa o adjetivo “numinoso”, que descreve um sentimento,
uma sensação extremamente marcante e forte de temor, sem ser de pavor. Algo
muito próximo das experiências vividas por Isaías e Daniel, por exemplo.
Encarar a relação com o Senhor, usando esse viés é um
grande desafio para nós. Temos a tendência de vê-lo como Pai, mas sem a
reverência que os antigos filhos tinham pelos progenitores. Arrisco a dizer que
chegamos a
banalizar nosso relacionamento com Deus de modo
absolutamente ridículo. Já ouvi (algumas vezes) de irmãos testemunhando como
“ouviram” a voz do Altíssimo guiando-os rapidamente no estacionamento do
shopping até uma vaga. Ou informando que poderiam dormir até mais tarde, porque
o ônibus que pegam todos os dias iria se atrasar uns vinte minutos. Acho que a
exortação bíblica orai sem cessar não contempla equiparar nossa conversa com o
Todo-Poderoso à comunicação com um simples manobrista.
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