sexta-feira, 17 de abril de 2015

Os campeonatos estaduais deveriam acabar?

Depois de longas e maçantes rodadas, os principais campeonatos estaduais entram, enfim, na reta final. Como em outros anos, a discussão sobre a atual relevância desses torneios veio à tona novamente, levantando essa questão. O debate ainda divide opiniões. Muitos, principalmente os mais antigos que viveram a era “romântica” do futebol, ainda alimentam certo apreço por tais competições. Dizem ser campeonatos históricos, de memórias épicas, com forte aspecto lúdico e ostentadores de incomparável charme. Vide o campeonato carioca, tido por muitos ao longo dos anos como o mais charmoso do país (concorda, Fred?).



Quanto à memória e o aspecto histórico dessas competições, não há o que questionar. O campeonato paulista, por exemplo, teve sua primeira disputa em 1902, com a artilharia do lendário Charles Miller, então jogador do SPAC – São Paulo Athletic Club. O campeonato baiano veio logo em seguida, em 1905. Hoje, todas as 27 unidades federativas do país possuem campeonatos estaduais (ao menos a primeira divisão).

Mas o que podemos dizer da qualidade dessas competições nos dias atuais? É claro que cada estado possui suas peculiaridades, interesses e necessidades. Mas é visível a degradação e a perda da qualidade dessas competições ao longo dos anos, com a clara falta de interesse por parte de torcedores e também dos próprios clubes. Certa vez, tive a oportunidade de conversar rapidamente com o grande zagueiro uruguaio Daryo Pereira, que defendeu o São Paulo nas décadas de 1970 e 1980, e ele me falou sobre a importância que tinha o Campeonato Paulista em sua época. Disse que o time valorizava muito mais um paulistão do que a própria Libertadores da América, tão venerada nos dias de hoje. E é fato. Os torcedores do Corinthians, por exemplo, mesmo diante de grandes conquistas recentes (Libertadores e Mundial de Clubes, em 2012) têm a conquista do Paulista de 1977 como um dos grandes títulos de sua história, triunfo este potencializado pelo fim do jejum de 23 anos sem títulos.


O que aconteceu? O Paulistão virou paulistinha. Os grandes e competitivos campeonatos estaduais diminuíram. Muitos clubes, outrora fortes e estruturados, hoje passam por situações catastróficas, de falência quase declarada. Vide o Guarani, centenário clube de Campinas, campeão brasileiro em 1976, que hoje se encontra na série C do campeonato nacional, tendo, inclusive o seu estádio - o tradicional Brinco de Ouro da Princesa - leiloado. E a lista se estende. Onde estão a Ferroviária de Araraquara, o Bangu (vice-campeão brasileiro em 1985), o folclórico Juventus da Mooca, o querido América do Rio de Janeiro, o América de Minas (decacampeão estadual consecutivamente)? Fora tantos outros espalhados pelo Brasil. Clubes com história, tradição, memória. E hoje, nada muito além disso.

Em geral, a situação é ruim. De um lado, vemos federações trabalhando muito pouco pelo futebol, visando a interesses, na grande maioria, políticos. De outro, clubes se engalfinhando por interesses próprios ao invés de se unirem em prol de um futebol mais rentável, competitivo, organizado, estruturado. O assunto vai longe, e nesta segunda, dia 21, falaremos um pouco mais no Vejam Só!.


E você, o que acha? Os estaduais deveriam acabar?

André Ramos


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