Depois de longas e maçantes rodadas, os principais campeonatos
estaduais entram, enfim, na reta final. Como em outros anos, a discussão sobre
a atual relevância desses torneios veio à tona novamente, levantando essa
questão. O debate ainda divide opiniões. Muitos, principalmente os mais antigos
que viveram a era “romântica” do futebol, ainda alimentam certo apreço por tais
competições. Dizem ser campeonatos históricos, de memórias épicas, com forte
aspecto lúdico e ostentadores de incomparável charme. Vide o campeonato
carioca, tido por muitos ao longo dos anos como o mais charmoso do país
(concorda, Fred?).
Quanto à memória e o aspecto histórico dessas competições, não há o que questionar. O campeonato paulista, por exemplo, teve sua primeira disputa em 1902, com a artilharia do lendário Charles Miller, então jogador do SPAC – São Paulo Athletic Club. O campeonato baiano veio logo em seguida, em 1905. Hoje, todas as 27 unidades federativas do país possuem campeonatos estaduais (ao menos a primeira divisão).
Mas o que podemos dizer da qualidade dessas competições nos dias
atuais? É claro que cada estado possui suas peculiaridades, interesses e necessidades.
Mas é visível a degradação e a perda da qualidade dessas competições ao longo
dos anos, com a clara falta de interesse por parte de torcedores e também dos
próprios clubes. Certa vez, tive a oportunidade de conversar rapidamente com o
grande zagueiro uruguaio Daryo Pereira, que defendeu o São Paulo nas décadas de
1970 e 1980, e ele me falou sobre a importância que tinha o Campeonato Paulista
em sua época. Disse que o time valorizava muito mais um paulistão do que a
própria Libertadores da América, tão venerada nos dias de hoje. E é fato. Os
torcedores do Corinthians, por exemplo, mesmo diante de grandes conquistas
recentes (Libertadores e Mundial de Clubes, em 2012) têm a conquista do
Paulista de 1977 como um dos grandes títulos de sua história, triunfo este
potencializado pelo fim do jejum de 23 anos sem títulos.
O que aconteceu? O Paulistão virou paulistinha. Os grandes e
competitivos campeonatos estaduais diminuíram. Muitos clubes, outrora fortes e
estruturados, hoje passam por situações catastróficas, de falência quase
declarada. Vide o Guarani, centenário clube de Campinas, campeão brasileiro em
1976, que hoje se encontra na série C do campeonato nacional, tendo, inclusive
o seu estádio - o tradicional Brinco de Ouro da Princesa - leiloado. E a lista
se estende. Onde estão a Ferroviária de Araraquara, o Bangu (vice-campeão
brasileiro em 1985), o folclórico Juventus da Mooca, o querido América do Rio
de Janeiro, o América de Minas (decacampeão estadual consecutivamente)? Fora
tantos outros espalhados pelo Brasil. Clubes com história, tradição, memória. E
hoje, nada muito além disso.
Em geral, a situação é ruim. De um lado, vemos federações trabalhando
muito pouco pelo futebol, visando a interesses, na grande maioria, políticos.
De outro, clubes se engalfinhando por interesses próprios ao invés de se unirem
em prol de um futebol mais rentável, competitivo, organizado, estruturado. O
assunto vai longe, e nesta segunda, dia 21, falaremos um pouco mais no Vejam
Só!.
André Ramos
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