sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O dia que entrevistei o rei Davi – Parte II


Antes de ler essa parte, você deve ler a primeira parte dessa entrevista. O texto é curtinho, não lhe custará nada, nem em termos de tempo!

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Bem, já falamos de sua fama como vencedor de gigantes e de autor de hinos sacros. Fica faltando falar de você e Bate-Seba. Por que você disse compreender que seja famoso por um episódio tão infeliz?

Porque nós humanos somos assim mesmo, marcamos o erro, a falha do outro mais do que qualquer outra virtude. E olha que eu ainda posso me considerar um felizardo, pois sou lembrado por coisas boas que fiz, e não só por essa página horrorosa de minha vida.

Por falar em sua vida, vamos falar um pouco dela, antes de explorar melhor a questão do seu adultério.

Eu agradeço.

Você tem consciência de que é alguém tão especial? Afinal, quase ninguém neste mundo pode dizer que viveu tão intensamente as experiências fantásticas que você teve.



Concordo plenamente. Eu, pelo menos, não conheço ninguém que tenha uma coleção de fatos tão fabulosos na vida. Veja só, ainda criança e eu já era admirado como músico! Trabalhei até no palácio, acalmando o rei com minha arte. Ele, o rei Saul, era um perturbado, mas quando eu tocava e cantava os hinos que o Espírito de Deus me dera, Saul se acalmava. Quando adolescente, tive aventuras dignas de um super-herói. Lutei – e venci – um urso, um leão e um gigante!

E não é só isso, o urso e o leão você enfrentou na qualidade de pastor de ovelhas, mas o gigante...

Exatamente! No caso de Golias, eu não era nem soldado, pois ainda era muito novo para servir ao exército.

Deixa de modéstia! Fala logo que o exército de Israel estava morrendo de medo de Golias e que você foi mais corajoso até que o rei!

Bom, sei lá, cada um sabe de si, né? O que eu sei é que quando Jessé, meu pai, pediu-me para visitar meus irmãos que estavam na guerra, eu vibrei! Finalmente eu poderia ver uma batalha de perto! Acho que esse é um sonho de todo moleque, e eu ia realizá-lo. Enquanto eu caminhava até o campo de batalha, minha mente viajava também, imaginando como seria assistir ao glorioso exército de Israel pondo os filisteus para correr. Não via a hora de chegar e extravasar meu orgulho não só por meu país, mas também pelo meu Deus, pois eu tinha certeza absoluta que a glória dEle se manifestaria naquela guerra, para mostrar aos filisteus que eles serviam a um deus falso.

Só que quando você chegou...

Você nem imagina o tamanho da minha decepção. Não vi exército nenhum, só um soldado, filisteu, por sinal. Era Golias, que do meio da campina estava berrando desafios e ofensas para os soldados de Israel.

E eles?

Ficaram onde estavam, escondidos em trincheiras e cavernas, morrendo de medo daquele metido superdesenvolvido.

Por que você não falou com eles?

E não falei? Não sei o que eu estava mais, se decepcionado ou indignado com meus compatriotas. Só que eles eram soldados e eu um rapazola que nem barba tinha na cara. Mandaram-me calar a boca e me enfiaram num dos buracos onde estavam escondidos.

É aí que a coisa fica empolgante, certo?

Pois é, quando Golias percebeu que ninguém se importava com seus insultos contra Israel e contra Saul, ele ficou confiante demais e abusou. Até aquele instante, eu já estava até achando que ele tinha toda razão, ao chamar nossos soldados de bananas, mas quando Golias extrapolou, eu não me contive.




Conta logo o que ele fez!


Bom, ele queria mexer com os brios de Israel e não conseguia. Xingou os soldados, o rei e nada. Ninguém reagia. Então, ele resolveu ofender o Deus de Israel, pode?! Maluco, doido, idiota! Xingar nosso povo é uma coisa, mas mexer com nosso Deus, ah, isso não dá!

Tem razão, não dá mesmo. Saul, então, teve de tomar uma posição, afinal ele era o rei de Israel, certo?

Olha, ele ocupava o trono, mas para Deus ele já havia perdido o reinado. Tanto que outro rei já havia sido ungido em seu lugar, no caso, eu. Esse episódio com os filisteus mostrou bem que Saul não tinha condições espirituais e morais para reinar. Em vez de se apresentar como líder do povo e enfrentar o gigante, ele se acovardou até fazer papel ridículo.

Como assim?

Quando Golias ofendeu o Senhor, eu não me contive mais e comecei a berrar com meus irmãos, tentando motivá-los para a batalha. Como nem assim eles se mexeram, eu mesmo resolvi ir para o campo de batalha. O rei ficou sabendo e, em vez de se envergonhar por um mocinho imberbe ter mais coragem que ele, preferiu vestir em mim a armadura dele.

Francamente... que coisa feia!

Pois é, mas tudo bem, a armadura não serviu. Bom, eu não iria usá-la mesmo. Não era soldado, não saberia me mexer usando aquele peso todo. Além disso, desde criança eu tinha aprendido que a proteção do homem que teme a Deus é Sua justiça! E foi assim, com minhas roupas e apetrechos de pastor que eu fui enfrentar o gigante.

Essa cena é absolutamente inesquecível, mas diga a verdade, você não ficou impressionado com o tamanho de Golias?

Eu estava indignado demais para reparar nesse detalhe.

Detalhe? O homem tinha quase três metros de altura!

Melhor. Seria mais difícil errar o alvo (risos). Agora, sem brincadeira, eu estava completamente tomado pela presença do Senhor. Tanto que disse a Golias: “Você vem a mim com lança, escudo e espada. Eu vou a ti em Nome do Senhor dos Exércitos a quem tu afrontaste”. E mandei bala, quer dizer, pedra. O fim, todos conhecem.


***

Não perca a última parte desta entrevista, na próxima semana. Davi, finalmente, explicará em detalhes o envolvimento dele com Bate-Seba. 


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