Antes de ler essa parte, você deve ler a primeira parte dessa entrevista. O texto é curtinho, não lhe custará nada, nem em termos de tempo!
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Bem, já falamos de sua fama como vencedor de gigantes e
de autor de hinos sacros. Fica faltando falar de você e Bate-Seba. Por que você
disse compreender que seja famoso por um episódio tão infeliz?
Porque nós humanos somos assim
mesmo, marcamos o erro, a falha do outro mais do que qualquer outra virtude. E
olha que eu ainda posso me considerar um felizardo, pois sou lembrado por
coisas boas que fiz, e não só por essa página horrorosa de minha vida.
Por falar em sua vida, vamos falar um pouco dela, antes
de explorar melhor a questão do seu adultério.
Eu agradeço.
Você tem consciência de que é alguém tão especial?
Afinal, quase ninguém neste mundo pode dizer que viveu tão intensamente as
experiências fantásticas que você teve.
E não é só isso, o urso e o leão você enfrentou na
qualidade de pastor de ovelhas, mas o gigante...
Exatamente! No caso de Golias, eu
não era nem soldado, pois ainda era muito novo para servir ao exército.
Deixa de modéstia! Fala logo que o exército de Israel
estava morrendo de medo de Golias e que você foi mais corajoso até que o rei!
Bom, sei lá, cada um sabe de si,
né? O que eu sei é que quando Jessé, meu pai, pediu-me para visitar meus irmãos
que estavam na guerra, eu vibrei! Finalmente eu poderia ver uma batalha de
perto! Acho que esse é um sonho de todo moleque, e eu ia realizá-lo. Enquanto
eu caminhava até o campo de batalha, minha mente viajava também, imaginando
como seria assistir ao glorioso exército de Israel pondo os filisteus para
correr. Não via a hora de chegar e extravasar meu orgulho não só por meu país,
mas também pelo meu Deus, pois eu tinha certeza absoluta que a glória dEle se
manifestaria naquela guerra, para mostrar aos filisteus que eles serviam a um
deus falso.
Só que quando você chegou...
Você nem imagina o tamanho da
minha decepção. Não vi exército nenhum, só um soldado, filisteu, por sinal. Era
Golias, que do meio da campina estava berrando desafios e ofensas para os
soldados de Israel.
E eles?
Ficaram onde estavam, escondidos
em trincheiras e cavernas, morrendo de medo daquele metido superdesenvolvido.
Por que você não falou com
eles?
E não falei? Não sei o que eu
estava mais, se decepcionado ou indignado com meus compatriotas. Só que eles
eram soldados e eu um rapazola que nem barba tinha na cara. Mandaram-me calar a
boca e me enfiaram num dos buracos onde estavam escondidos.
É aí que a coisa fica
empolgante, certo?
Pois é, quando Golias percebeu
que ninguém se importava com seus insultos contra Israel e contra Saul, ele
ficou confiante demais e abusou. Até aquele instante, eu já estava até achando
que ele tinha toda razão, ao chamar nossos soldados de bananas, mas quando
Golias extrapolou, eu não me contive.
Conta logo o que ele fez!
Bom, ele queria mexer com os
brios de Israel e não conseguia. Xingou os soldados, o rei e nada. Ninguém
reagia. Então, ele resolveu ofender o Deus de Israel, pode?! Maluco, doido,
idiota! Xingar nosso povo é uma coisa, mas mexer com nosso Deus, ah, isso não
dá!
Tem razão, não dá mesmo. Saul, então, teve de tomar uma
posição, afinal ele era o rei de Israel, certo?
Olha, ele ocupava o trono, mas
para Deus ele já havia perdido o reinado. Tanto que outro rei já havia sido
ungido em seu lugar, no caso, eu. Esse episódio com os filisteus mostrou bem
que Saul não tinha condições espirituais e morais para reinar. Em vez de se
apresentar como líder do povo e enfrentar o gigante, ele se acovardou até fazer
papel ridículo.
Como assim?
Quando Golias ofendeu o Senhor,
eu não me contive mais e comecei a berrar com meus irmãos, tentando motivá-los
para a batalha. Como nem assim eles se mexeram, eu mesmo resolvi ir para o
campo de batalha. O rei ficou sabendo e, em vez de se envergonhar por um
mocinho imberbe ter mais coragem que ele, preferiu vestir em mim a armadura
dele.
Francamente... que coisa
feia!
Pois é, mas tudo bem, a armadura
não serviu. Bom, eu não iria usá-la mesmo. Não era soldado, não saberia me
mexer usando aquele peso todo. Além disso, desde criança eu tinha aprendido que
a proteção do homem que teme a Deus é Sua justiça! E foi assim, com minhas
roupas e apetrechos de pastor que eu fui enfrentar o gigante.
Essa cena é absolutamente inesquecível, mas diga a
verdade, você não ficou impressionado com o tamanho de Golias?
Eu estava indignado demais para
reparar nesse detalhe.
Detalhe? O homem tinha
quase três metros de altura!
Melhor. Seria mais difícil errar
o alvo (risos). Agora, sem brincadeira, eu estava completamente tomado pela
presença do Senhor. Tanto que disse a Golias: “Você vem a mim com lança, escudo
e espada. Eu vou a ti em Nome do Senhor dos Exércitos a quem tu afrontaste”. E
mandei bala, quer dizer, pedra. O fim, todos conhecem.
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